1/11/2007




















Oh!
Carícia que traz à alma redenção.
és verdadeira ou és
apenas ilusão?
Alivia-me os delírios,
resgata-me dos mortos,
entorpece meus sentidos,
dissipa os fardos que espinham o coração...
liberta o ente ensimesmado
que entoa infelizes baladas enrouquecedoras.
Não!
Não me poupe à ruína de ser,
mas não renuncie a mim.
necessito de tua presença
tanto quanto dependo
de meu pesar...



sóbrio
16.12.2005
12:35
b.

Poema Interpretado

“Poema Interpretado”


Brinquedos encaixotados
Canetas-Aviões que já não voam mais
Relógios desencontrados
Barcos-Vento que não acham seus Cais

Cobra que morde o rabo;
Óculos-Cortina: o perdido não lhe apraz...

Sonhos desenfreados

Carros-Tons, a trilha dos racionais
Cordas-Sons, o retorno aos animais



Interpretação:

Brinquedos encaixotados – infância trancafiada no subconsciente.
Canetas-Aviões que já não voam mais – perda do senso alegórico infantil.
Relógios desencontrados – a falta de sentido na vida faz o Homem ficar incapaz de enfrentar situações excepcionais, como o Amor, por exemplo, o que o faz perder o sentido.
Barcos-Vento que não acham seus Cais – vida impossibilitada de um alvo significativo, desilusão existencial.

Cobra que morde o rabo – tempo cíclico, repetitivo/ limitação da imaginação/ falta de amplidão dos gostos, dos ideais.
Óculos-Cortina; o perdido não lhe apraz – o limitado, que vê sempre a mesma paisagem em tudo, não consegue – ou não quer – apreender do evento perdido a Sua Catarse.

Sonhos desenfreados – plenitude, fluxo de imaginação, os caminhos se estão delineando.

Carros-Tons, a trilha dos racionais – disciplina como forma de convivência, vida apolínea, René Descartes como “pedagogo do cotidiano”, as certezas hipnopédicas do “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, a realidade delimitada de tal forma que caiba em nossas mãos, as vontades de verdade.
Cordas-Sons, um retorno aos animais – a “livre-expressão” como retomada da essência instintiva do Ser – exemplos são infindos: Stravinsky e sua música cortante; Hermeto Pascoal e a hiper-sensibilidade de sua percepção sonora; a vida selvagem do “Admirável Mundo Novo”; Nietzsche e sua exortação do sentimento, da ação, do êxtase, da vontade, da arte, da força criadora e da recuperação da música dionisíaca, extasiadora do espírito.


Advertência:

Tal interpretação é a do autor.
Claro fique que não é a única possível,
Nem deve ser.
A interpretação foi feita verso a verso,
deixando margem para que o leitor
Exerça
A sua parcela de posse sobre a obra,
Interpretando o conjunto da interpretação
Do autor,
Impondo-lhe sentido,
Se quiser;
Ou ainda, formular uma nova interpretação
Que tenha nada de referência com a do autor.

Faço doação desta obra aos leitores
(se é que existem leitores para esta obra)
como agradecimento.
As demais... roubem para si!



André Raboni
Andava a avenida antiga, angustiado anjo azul. Angina antropomórfica lhe afligia o coração. Pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo, pé direito na rua do príncipe, sem príncipe ou carruagem acenou pra Gervásio. Pires sem xícara. Chá do meio dia. A princesa no peito. Angina menina buzina na esquina. Carros coloridos. Carro vermelho cor de sangue, cor de cabelo vermelho, cor de angina no miocárdio esquerdo, cor de acidente cardiovascular no ventrículo direito. Vai e vem, vai e vem nas cavidades ventriculares de Gabriel, que nunca foi Gabriel, mas anjo. Ancho! Achados e perdidos: leitão lilás choraminga mãe Albina. Leilão zoomórfico na banca de bicho. Vai vem vai vem lá do lado de ál, casal de alguma sigla que especifica um ponto onde vetores cardíacos estouram numa paixão. Olha o conde! Pobre conde da feia vista como fede, suado, suvaqueira crônica. Não demora o diálogo. Espelhos de preços canaletas imundas, refletia cinco e cinqüenta, seguindo, dois e indigestão, duodeno na mão duvidou das imagens. Não confiava em espelhos tamanha contingência e diferença que surgia. Al lado, o anjo seguia distante e diante da pólis, do Alamut, onde pombos azulargênteo circulavam as torres pós-punk do hotel central. Dois mil e noventa e nove reais uma odisséia no hot dog (com direito a copinho).
No litoral, onde cortam coqueiros e canas de açúcar amarelomuco, Preces indígenas. Preces indigestivas já rezam faz quinhentos anos. Maquinaria. Funila a FUNAI fusão de brancos e carapálidas. Brancos do corpo, suicidam os vermelhos negros. Brancos de fora, extracorpo, para-médicos indigenistas. Não querem rezar. Ocupam oca rocha. Desenho de cocar na entrada. Verde paredes. Verdade verde ou mentira dormiram semana inteira sem rede, sem macaxeira, sem Macunaíma. Fios vermelhos iluminam a luta, fios de cabelo e fibra ótica que interliga anjo e oca na casa divina diva menina. Cara são as malhas da telefonia, expensive juros altos, baixas na Oceania, pobres índios deságua e leva as casas o capital febril das pólis imperialistas. Gordura saturada bata frita sabor óleo “apenas” um real. Realidade sem macaxeira ou peixe. Diarréia intestinal. Do outro lado, não tão menos indigestiva, ela, no meio de todos, democrática, para o anjo sempre altiva: Lara. Que fome, que fome na veia cava. Movimenta. Movimento. Vetores e segmentos de linha que cortam os pontos. Ela = F, ela F = M . A. Não vem de baixo, não vem de cima. Impulsiona deforma o meio. F. Seria mentira pensar dois diferentes espaços. Sapos cantam um hino frugal de melancia, goiaba, graviola, cajá, carambola, ameixa. Morangos vermelhos em her hair. Quantas frutas pensam todas alheias? Frutas e lutas: boca fechada não entra mosca. Medo. A de olhos glaucos, antena o anjo. Antenas radiofônicas orgásticas. A de olhos glaucos enfim calçou, sem demora, nos pés as bonitas sandálias de ouro e divinas, que por sobre as águas, sem mais, a conduzem, como também, pela terra infinita, qual sopro do vento.
Trocando o certo pelo duvidoso cruzou a trilha do pátio tricolor. Sem índios a Terra de Santa Cruz se fez paço, ou pátio. Nordestina filmografia brasileira Lisbela não estava ali. Passam aviões da segunda guerra cabeça a cima dos pracinhas em castelo de areia de praia. Azul angelical. Passos leves. Quase atropelado por carruagem anil, não escapa do vermelho que vem de longe e atropela toda hora. Mora na monotonia da distancia que esvazia a bacia e lança o bebê fora. Sol do meio dia, seca cada gota antes de alcançar o Capberibe, mas não morre o bebê antes de alcançar o IMIP. – Que eu imite, Que tu imites, Que Ele... Repetem as crianças na escolinha. Que força tempestade impele ao futuro. Da memória constrói vermelho o passado. Postes vazando corrente. Lâmpadas apagadas. Pontes quebradas. Intangibilidade. Venal lugar mercado da boa pinga. Vermelho, sua cor trás lembranças aveludadas em angelicais sinapses nervosas. Síncope cerebral. Uoooooooooouuuuuu, uoooooooooooouuuuuu, circula as margens de uma circunferência com raio de cinqüenta centímetros. Cinqüentenários idosos vão e vem. Bêbados. Quase cinqüenta graus. Panela de pressão. Crânio dos transeuntes. Árvore. Sombra água na moleira. Vendo o verde lembra o vermelho. Vinte vezes, vinhedos cerebrais celebram o ritornelo do vermelho. Rói o coração. Fome. Lara. Ecoam no mercado versos marginais, voam copos e garrafas, voa o anjo, voa al redor do vermelho, voa sem nada concluir, voa para o meio das coisas, para as coisas.
Em Algum lugar ela existe e pensa sem pontos sem virgulas sem medo algum de nada e de ninguém em como transformar o mundo em como recompor o vermelho em como encontrar o azul em como preservar o verde a verdade
No não lugar irrestrito pousa o anjo onde ela dorme e sonha sem carros buzinas vitrines prédios mercados estampas ridículas onde se encontram não há virgulas nem exclamações nada se faz imperativo grito ou imposição em silêncio dormem um sono vermelho sonham azul comunicação transmental não verbal o anjo e a de olhos cautos voltam um ao outro a criança em retorno ao lugar de onde saiu
Musa reconta os feitos dos heróis astuciosos que muito peregrinaram


Nuwanda
Poema modernistra-regionalista-marginal

Com o pau na mão
Eu vi meu sertão.

D.V

Mecânica-cartesiana


b.

1/03/2007

Cessar-fogo


Chega de amor radical
Cansei da beligerância
Me dê a mão e lutemos
Pra acabar com a intolerância
Que entre nós põe barricadas
Quero um fundamentalismo
Fundamentado na paz

Pra que estejamos juntos
Protegidos em armistício,
Te proponho que selemos
Com mil beijos a política
Da boa vizinhança para
Podermos nos habitar


Lena Costa Carvalho. 2006

..."não precisa pressa!"

(...)

Cantando o hino da aurora que no horizonte plana
Da madrugada morta e das bebidas pardas
Que a boca engole rasgando a garganta que a boca engole rasgando a noite
Quando dormem nas casas todas a virgens peladas e lânguidas
Sana minha mente e desmente toda trama das estrelas foscas
Tragos de cigarro leva levado o vento a fumaça e as cinzas da alma
A mana que flana Hanna em minhas palavras lavradas e pesadas
O Galanteio a as pupilas que negam negam cegam minha vista
É a vista do mar na escuridão sem lua só o som das ondas
A menina bêbada que rola o monte de Sísifo abaixo



Pergunto o que tramas quando todos estão na cama
As três Marias brilham o violão nada toca sem fofoca
Conversamos um monologo úmido onde orvalham as almofadas labiais de sua boca
Sua e transpira o perfume das flores da meia noite transpira o perfume que me inspira
Depois pega carona nas asas da próxima coruja que vem amaldiçoar minha treva
E partes em partes partes partindo parte do que partilho contigo e não queres



D.V.
vadia


Não, eu não escolho não
fico com minha solidão
e ao te encontrar no vão da porta
e pede então pra ficar
diz que não passou da boêmia
que te fez desabar
no braço daquela vadia
vai de dia, que a noite é tarda a chegar
para o fim.


(Madamme Radharane)