12/29/2006

Caráter


Sempre soube que contra fatos não há argumentos.Mas - cético - na sala de visitas de Camila me recusava.
Dizia ela calmamente que era aquilo ali mesmo. Que não queria inimizade. Não deveria ter sido daquele jeito.
Daquele jeito. Fato é que o "daquele jeito" era pesado na digestão. E assustava qual paliativo pra solidão.
Desilusão.
-Rimas e Rimas sem intenção quando o propósito mesmo era dizer o fim dessa relação-
E aí, levantei, beijei a face de Camila, pus o casaco e desci pela rua.
Afastava-me dali. Abria caminho nas lembranças. Tomava distância das discrepâncias.
Acenava pra liberdade.
Oportunidade...

Zorieuq De.16/XII/06
Ventilando


Hoje vou arejar a vida
Sairei sobre a vontade
De deixar-me ir, enfim

Tudo com tranqüilidade
Que de trauma nós cansamos
Vou, apenas porque é hora

Abrirei aquele espaço
Que preservei a meu lado
Para o caso de ficares
E de estarmos tão mudados
A ponto de nos unirmos

Hoje eu me permitirei
Abraçar com toda a alma
E arrastar a cadeira
Para que seja ocupada

Sorrrir maliciosamente
Com as melhores intenções
E, quem sabe, até, abrir
a janela que nem viste
no abafado em que andei


Lena, dezembro de 2006

12/21/2006

Origens


Alma.
Alma minha,
minh’alma!
Onde estás, senão em tudo
o que me rodeia,
me despenteia
e, então, me acalma?

------------------------ luciana cavalcanti

12/19/2006

Persistência da Memória...



(...) Dali

Às Justas...

Poetas há que louvam as dissolutas.
E nestas, sabeis, o mundo se engolfa.
E por mais que me apraza a via da folga,
Mor deleite é se meter co’as justas.


Pois quem há de negar que a prostituta,
‘Inda que ardosa, causa grave envolta
Quando, todo largura, seu cú golfa,
E toda a porra se faz devoluta?


Em vós, justas, é que se vai guardando
Tudo hermeticamente fechadinho.
Mas sei que temeis o membro nefando:


Temer não há, pois que me vou sozinho;
E manso e lustroso me vou entrando
Na alma justeza do vosso cadinho.

Acadêmico Obsequioso
História dos Vencidos
Lá vinha ele, com seu guarda-chuva e cabelos desgrenhados... Olhos negros, acesos como faróis a queimar o caminho a sua frente. Rente passavam ratos e baratas fartas, aquele lugar era um verdadeiro banquete. Sentou-se junto à parede e para os lados olhou. Os fardados fardos não vinham... Ninguém veio. Ele recomeçou a andar, vagarosamente a pisotear os corpos: cadáveres entreabertos. Cada passo ardia... A ferida abria... Pau... Latina... Mente. Sua alma, torturada, imaginava coisas... Sussurrantes... Em seus insanos ouvidos. Seus dedos apertavam o cabo e o sagrado sangue escorria ao chão. Pingava... Era grosso, aquele negro líquido. Por ter salvado mais de trinta ainda o perseguiam... Era noite escura, sem lua, coberta por nuvens pesadas... De temporais mal resolvidos, que teimavam em não cair. Talvez a natureza não quisesse se sujar, ainda mais. - Socorro! - Alguém gritou. Estava perto... Perto demais... Para poder ajudar. Tiros... A voz cessou... E outra ecoou, atravessando o odor ígneo: - Continuemos a caça. Aquela maldita raça não há de escapar! E foram todos, marchando, assustando os corvos que se alimentavam através de órbitas fabricadas e ainda quentes. A barba gelava... Não havia escapatória... Naquele mundo hermafrodita, para aquele ser não haveria vitória. - Nada como os selvagens gansos, a grasnar na sua rota migratória... Pensou ele... Delirava. Os devaneios já tomavam o lugar da realidade. Queria fugir, mas não tinha mais forças. Forçou-se a continuar naquela passada... Pesada e concubina, amiga do dinheiro que ele não mais tinha. Orou! Pediu ao Deus que ele conhecia que sobrevivesse mais um dia. Para que sua família pudesse ver. Chorou! E caiu ao chão desmaiado, estava demasiado cansado, pela perseguição do poder. Amanheceu... Raiou o dia, os cães farejavam... Ainda. Horas já tinham se passado. Cães de rua. Alguns mortos de fome morderam o então. Ele acordou e os espantou. Pelo menos para alguma coisa serviu aquilo de que estava armado. De guarda-chuva a cajado e então, à bengala. Levantou-se, titubeou, o sol feria seus olhos e o fez ver que a quantidade de corpos ultrapassava o milhar. Deslocou-se para o que poderia ainda ser sua casa, estava perto, porém não o bastante... Novamente. Depois de algum tempo chegou. No trajeto nada viu, além de mortos. Terreno vil... Onde estava o sangue? Teria sido varrido e ele não havia percebido. Sua esperança continuava. No fundo do peito algo ainda o chamava... Ele sabia, mesmo com toda aquela chacina, ainda existia chance de encontro com as pessoas amadas. Abriu a porta... Nada. Nem uma gota de sangue, nem um corpo... Nada! O desespero tomou conta, descontou na parede. Bateu com a mão... A parede cedeu e o encobriu como um lençol. Soterrado ficou, olhando fixamente o chão... Nada mais poderia ver... Suspirou... Novas lágrimas caíram, achava que já tinham secado, mais uma vez enganado. - Nunca... Nunca pensei que assim seria o fim... Mesmo sabendo que aqui... Ouviu voz... Conhecida. Gritou! Alto. O máximo que seus pulmões esmagados puderam suportar e retirado foi, pouco a pouco, dos escombros. Olhos voltados para o céu... Céu azul... Gansos seguiam seu curso migratório. Ele sorriu... Cansado e aliviado, ao ver a imagem de sua mulher... Logo desfeita por Napalm.


D!G

LÂMINA


Solitário
é o poema percorrendo as horas.
Dois olhos vagueiam e imploram
alma para deixar-se arder,
se o Amor é chama
e a saudade é tarde que reclama
o Tempo e sua lentidão.

Misterioso
é o vinho despertando a boca.
Um cansaço na voz, quase rouca
que já nem quer lamentar
angústia tão velha,
se o amor é faca
e o desejo é fúria que aplaca

a carne inteira sem sangrar.


Luciana Cavalcanti
Nem sempre quem olha a vida pela janela é espectador.

Pensei nisso agora

----------------------------------------------------------

Aquele menininho com cabelos lambidos de tão lisos se sentava na frente daquela janela todos os dias, no mesmo horário, na mesma posição. Parecia que tava congelado, não movia nem um dedo. Estático. Apático. Não, não, às vezes arriscava um sorrisinho no canto da boca.
Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta. Dias em que eu via, da minha janela, aquele menininho ali. No Sábado era diferente. Até no horário. Vinha mais cedo. Trazia um amigo às vezes. E ali ficavam, estáticos. Um cutucava o outro querendo dizer algo. O outro mexia a cabeça. Sorriam.
Engraçado era no Domingo. No Domingo ele vinha só. Mas trazia um livro. Veja bem, pensei, se bem não se mexe, como diabos vai ler as páginas de um livro?! No Domingo ele aparecia mais cedo do que no Sábado. Provavelmente depois do almoço escapava sorrateiro enquanto os pais iam descansar. Talvez nem tivesse pais. Talvez nem almoçara.
Fato é que, ele observava algo e eu o observava. Tudo assim, de longe. De relance. Especulativamente.
Uma tarde dessas, acordei, sem muita cerimônia fui até a varanda. De súbito me abaixei com o que vi. Olha lá ele outra vez. Mas tão cedo. Que dia é hoje?!Domingo?! Agachada, quase que engatinhando, cheguei à cozinha. Abri a janelinha lateral, ali parecia seguro. Ele não me via. Passei o fim da tarde todo ali. Olhando pra ele. E ele olhando o horizonte.
Dia desses estava comprando frutas. Perto de casa mesmo. De certo, andava pela rua como uma desvairada. Derrubei um dos cestos de morangas do quitandeiro. Apanhei o que pude junto com ele. Pedi desculpas. Voltei ao curso normal rumo ao meu prédio. Parei. Olhei em volta. Sentia-me observada. Retomei a andar. Parei de novo. Olhei discretamente pra trás. O quitandeiro estava com algum cliente. Não, não era o quitandeiro. Voltei a caminhar. Caminhava rápido e mais rápido. Corri. Parei. Perguntei-me porque corria e, sobretudo, de quem. Sem respostas. O prédio já se aproximava. Podia ver de longe a minha janela da cozinha. Estava entreaberta. Tremi. Gelei. Pensei em voltar. Busquei aparato numa sobra de parede de uma casa abandonada. Talvez dali eu pudesse me sentir conservada. Procurei angustiada pela figura daquele garoto franzino sentado a frente da minha varanda. Não estava lá. Será que...não, não... era só um garotinho.
Passei uns 30 minutos ali. Escondida. Fitava com receio a janela da cozinha. Senti-me pela primeira vez invadida. Senti-me nua sem movimentos meus, só meus.
Pensei em ligar pra polícia. Pensei em apontar pra janela e rir. Talvez isso desarmasse a convicção do observador anônimo. Pensei em gritar pro nada. Pensei em ameaçar contar a mãe do garotinho. Pensei. Nada fiz. Sentei no chão. Comi umas frutas. Achei um livro na bolsa. Peguei-o.
Quando a tarde caiu, olhei pra mim mesma. Peguei as chaves no bolso e subi. Sem medo. Tomada por uma curiosidade infinita. Abri a porta. Ri. Porque pensei em dizer algo pra alguém que estivesse ali. Moro só há alguns anos. A gente sente essa necessidade as vezes. Mas, nada disse. Engraçado é que não pensei em ir logo na cozinha. Não, não. Era tarde já, talvez o garotinho pudesse já estar sentado ali, a espreitar a vida.
Ele não estava ali. Esperei ser cedo demais para a sua chegada. Sentei-me no sofá. Não queria mais ir à cozinha. Levantava de tempos em tempos pra ter certeza de que ele ainda não havia chegado. E foi assim durante dias. Semanas. Meses. Anos.
E hoje cá estou eu, sentada nesse sofá velho, empoeirado e sem graça. Não sei até que ponto eu fui espectador ou se fui observada. Não sei até onde a minha vida foi roubada. Nem sei até onde posso ser analisada.
E A janela da cozinha?!
-- Mandei tapar.

Zorieuq De.
Calendário do Século Passado

Ele era sempre o mesmo. Parecia. Todos, inclusive eu, o chamavam de Russo,mesmo sabendo que era Eslovaco. Luvik. Com seus óculos negros, uma sabedoria encarnada na grossura de suas lentes, ouera mesmo da armação? Só sei que era sabedoria. Talvez atribuída! Preferiaacreditar que fosse adquirida. Cotidianamente usava uma camisa branca de mangascurtas, calça preta e o mesmo, ou parecia o mesmo sapato de cordões e couro decarneiro. Desgastado, porém confortável. Com uma tranqüilidade e aspereza quenos transmitia. Bem...Luvik atribuía sua longevitude, pois já vivia há quase 92 anos, afilosofia de vida de sua autoria, que era orgulho para o velho estrangeiro tãoamado e não reconhecido Luvik. Sorria para os conhecidos, era o mesmo sorriso, parecia o mesmo. Com seusdentes amarelados – o fumo amarela- dizia ele. Era pequeno, não sei talvez ummetro e sessenta, branco, viúvo. Luvik era o mesmo até na sua morte, com suamelhor e mesma roupa. Era sempre o mesmo. Não deixara patrimônios a serem divididos, nem herdeiros, apenas um calendário,que era o mesmo desde 1890. Sempre no bolso de sua camisa, Luvik, o carregavapara todos os lugares, todo dia, ano, ano velho ou novo era sempre o mesmocalendário. E como o amava. Foi a única matéria de sua desgraça. Luvik o possuíra no dia do falecimentode sua esposa, Sônia. Luvik era um homem do século passado, com roupas do século passado, com o arbonachão e calendário do passado, sua vida e sonhos viviam nos anos passados, nopassado de Sônia. Agora ele está mais feliz, pois voltou para voltou ao seuséculo, adeus Luvik.No calendário com letras de Sônia: “Luvik te espero para o jantar, volta logo,amor Sônia”.Sem longas despedidas, vamos, Luvik já estamos em 1930. Até breve amigo....
RUBENS DA COSTA LACERDA

O Sujeito Natal

Inteligente, transparente e metódico
Folclórico, mas sem expressão, enfraquecido,
Sociedade civil, enfraquecido,
Reservado, açoitado e idílico,
O Espírito de Natal


Meditando no torpor contemplativo,
De si mesmo, idealístico e individual
Amortecido no desespero da cacofonia gutural,
sem ressonância, subtraído pelo Estado em imperativo
Oh; Espírito de Natal


Confluído numa embriaguez de imagens e cores
Enaltecido nas memórias, distantes, de amores
Entumecido e lívido,
O Espírito de Natal


No etéreodo imaginário repousa,
Absorvido na estrutura formal, na fria lousa,
Sujeito fraco e genérico, recobre-se,
O Espírito de Natal.


Diogenes

12/17/2006

Caráter


Sempre soube que contra fatos não há argumentos.Mas - cético - na sala de visitas de Camila me recusava.
Dizia ela calmamente que era aquilo ali mesmo. Que não queria inimizade. Não deveria ter sido daquele jeito.
Daquele jeito. Fato é que o "daquele jeito" era pesado na digestão. E assustava qual paliativo pra solidão.
Desilusão.
-Rimas e Rimas sem intenção quando o propósito mesmo era dizer o fim dessa relação-
E aí, levantei, beijei a face de Camila, pus o casaco e desci pela rua.
Afastava-me dali. Abria caminho nas lembranças. Tomava distância das discrepâncias.
Acenava pra liberdade.
Oportunidade...

Zorieuq De.16/XII/06

12/03/2006

Silêncio Ausente Inserido


De início eu era chato, não gostava das pessoas. Resmungava, esperneava e até cospia nas que estavam próximas a mim. Estas, falavam baixo, com aparente mau-humor, agiam de forma completamente estranha das atitudes de antes. O que afinal elas esperavam que eu fizesse? Todos me tratavam como a um retardado! Fazendo gracinhas, trocando uivinhos, coisas que só alteram as expressões de um bebê, riso ou choro. Ora, se inicialmente tratavam-me como uma criança em seus anos iniciais, imaginem como elas se desinteressam por estes trejeitos tão logo começam a andar; por que cargas d’água censuravam-me com tanto ardor? Parecia um animal, quando este rouba comida da casa do dono. Eu mudava de ser em questão de segundos! Estava impossibilitado de andar e de escrever é bem verdade, mas a curvatura de meus membros que à força se formou, não explica esse comportamento idiotizante que se faz ao dirigir-me a palavra. Parecia-me com o cãozinho que a filha mais nova acaba de ganhar. Com o tempo fui acostumando com esse tipo de tratamento unicamente por questão de sobrevivência. A mulher que me alimentava tinha medo que eu a mordesse, então ficou cada vez mais difícil de suprir minhas necessidades fisiológicas, considerando a simpatia que nunca nutriram por mim.
Depois de ter percebido isso, parei meus ataques súbitos. Ainda não conseguia sorrir, não por incapacidade física, mas por negar-me a isso; então ficava quieto, calado. Por bem dizer, nunca fiz mais do que balbuciar e babar. Não conseguia ver, nem com a mais desprezível alegria, aqueles rostos patéticos! Mas à medida desse processo de conformidade, fui achando graça naqueles bobos da corte inquietos. Minha primeira gargalhada reverberou por entre os silêncios das bocas entreabertas. Não sabem eles do desprezo que tenho por todas aquelas deformidades faciais. Duvido até que imaginassem meu plano em que eu, em toda minha sede instintiva, abocanharia o pescoço da babá do terceiro turno...


(b.)




Da Urna de Pandora

Acreditaste na transposição dos montes?
Consta que nunca foste, acaso, feliz.
Desprendeste da casca de uma crua ferida
o véu de descendentes estrelas?

Quando, nua, a esperança corria
a esconder-se atrás de tua porta,
não se ouvia senão o teu grito...
Sangue apodrecido, deflorada aorta.


(10.07.2000. Recife, LAC)

http://www.gargantadaserpente.com/toca/poetas/lucianamancio.php

...................................................................
Tela de Cícero Dias.

"O Leilão"

(...) os preceitos que regeriam o leilão. O lance inicial era de cinco bilhões de dólares, reduzindo em lances de cem milhões. Quem pagasse menos levaria o artefato. Uma leve corrente de frio percorria lentamente o ar. Um cheiro suave de pipocas povoava as minhas narinas e a luz, pouca, tornava o lugar um tanto quanto lúgubre. Um zumbizado produzia um alarido que nos possibilitou uma conversa discreta.

– Sabes o que será leiloado aqui, hoje? Perguntou-me o cara.

– Carros? Arrisquei uma resposta de soslaio.

– Não, seu tolo! Igrejas; e a primeira será a Igreja da Várzea.

Pós(Modernidade)


Sozinho.
Minha porta está aberta,
Mas eu estou só.
Só, sem outrem.
Só, com minhas paixões
E minha paixão por elas,
Só, com o pranto silencioso
De me estourar os tímpanos
E rasgar o peito.
Só, com o fermento da uva que me consome.
Só, sem sombras a meus pés.
Só, com cadeiras em minha sala,
Mas só com cadeiras!
Só, com a fome de um ponteiro de contar segundos.
Só, com a sinuosidade de meus pensamentos
E com os símbolos do sentimento do mundo
Já expresso por corações de homens
Na maior proximidade que podem ter
Da imagem e semelhança do divino feitor,
Só quem me acompanha
Enquanto se me abre a porta
Da solidão em que me encontro.
por Vítor Souza
Laissez-faire *



Comovente era. Porque de fato sentar, desconfortavelmente, naquele sofá e ver o telejornal ao lado dele já não tinha mais graça. Já não fazia mais a cabeça dela. Há dez anos vá lá. Era mais nova. Achava até romântico tudo aquilo ali. Comentar as últimas façanhas de alguns acontecimentos. Até arriscava mencionar o drible perfeito de algum jogador de futebol. Mas isso há dez anos – pelo menos – não agora. Não agora com os fios brancos a lhe pintarem a cabeça. Não agora com os filhos já quase casados. Não agora com aquele homem desconexo ao seu lado.
Era quando, para disfarçar aquela estranheza, buscava com os dedos os já parcos cabelos dele.E era dali, que rejeitada, apelava para o crochê. Mas não sabia crochê. E Pensava até no café. Pensava, na verdade, em qualquer coisa e em quase nada. Pensava no que tinha sido e do que havia de ter vivido se não fosse.
O telejornal acabava. A telenovela começava. O controle-remoto salteava imediatamente os canais. Era aquela a hora de levantar-se, de fazer enxergar-se, de dizer-lhe poucas e boas e talvez até consertasse. Mas, exausta daquele barulho inaudível dos dois, apelava ao telejornal que recomeçasse. Implorava ao canal que sintonizasse alguma coisa mais palpável que aquilo dali.
Porque aquilo dali, meu rapaz, aquilo dali não tinha definição. Era uma cena de fácil discrição, um homem com controle-remoto na mão, uma sala e uma televisão, um único sofá para dois revelando a imensidão e uma mulher com a sua solidão.


Zorieuq De
16/XI/06





* Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente "deixai fazer, deixai ir, deixai passar".

12/01/2006

De ninar


Silêncio!
Esta noite a mágoa deseja dormir.
Permita,
Pois faz tempo que ela

não nos dá trégua alguma.

Deixa agora
Que ela durma
Sob a paz do vinho branco.
Deixa o Mundo
Cantar seu canto
De nos adormecer.




................... "De Ninar", Luciana Cavalcanti

(...)

Saindo à francesa


Não era daquele jeito que ela queria. Porque gostar da forma como ele conseguia, pra ela, era pouco. Era ínfimo diante do pensamento romântico e sem fronteiras ao qual se adaptara. Estava acostumada a receber flores, a comer bombons importados, a ter jantares improvisados. Aquela forma de dedicação era um bocado insatisfatória mesmo. A incomodava. Dois anos. Há dois anos ela esperava por mais. Há dois anos o “verbo” era singular. Há dois longos e patéticos anos se permitia aquilo ali.
Penteando os longos cabelos em frente ao espelho. Decidiu-se. Porque tinha de haver solução. Porque não era possível aquela situação. Não. Não era, não. Passou a tesoura de ponta nos cabelos. Pincelou “rouge” pelo rosto inteiro. Batom vermelho. Enfatiotou-se com esmero. E enquanto ele girava a maçaneta da porta da frente. Usou a saída dos fundos. Pegou o elevador de serviço. Disse outro nome ao taxista. Seria uma nova versão. Seria,dessa vez.


Zorieuq De.12/IX/06

toque...toque...toque...!


Um toque teu é tudo o que eu quero,
Um toque teu é tudo o que eu almejo
Um toque teu é tudo o que eu espero
Um toque teu e dos teus lábios um beijo.
Um toque teu me faz reviver
Um toque teu me faz suspirar
Um toque teu me faz arder
Um toque teu faz meu corpo vibrar.
Se teu toque me faz estremecer
E um beijo me faz alucinar,
Imagina o que teu corpo pode fazer,
Como a minha mente atordoar.


"Toques" por Lígia Ventura

de salto. e de pulo...

Impérvio: adj. 1. Por onde não se pode passar; intransitável; impenetrável;
ínvio; 2. s.m. lugar em que não há caminho ou caminhos.

se porventura conseguisse transpor
o tempo consumido que filtro de meus sofrimentos
e gozar de tua companhia n'um lugar
parado no tempo
morreria
e neste estado de intransitividade
jamais dependeria de teu complemento
e tu
jamais se sensibilizarias
pelo que penso ou sinto
e na passagem impraticável entre nós dois
restaria apenas uma faixa estreita
cujo atalho confundiria nossas direções
e embaçaria nossos destinos...
impérvio

15.07.2006
17:08
b.

11/28/2006

Perdedores de Cara

Escuro
Escrevo
No
Escuro.
Com meu pente de sei lá quantos mil
Dentes
Insisto
Concrito
No
Meu
Livre Arbítrio.

Penteio a Treva
E minha caneta
Neva
Quase cinza.

Esfria
Na paulatina
Covardia do existênciar.

Sou saudade
Da solidez
Que
Se
Di
Lu
Í
Ia
Eu
Sol
vente
Sem jamais brilhar.
D.V. (01/08/05)

(...)

Sou fruto de um galho quebrado
De uma árvore seca
Num solo rachado
Por uma intempérie
Chamada acaso

por Dbreda

dA(s) aRTeS dE LeR... (?)


O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento
já interrompeu a leitura e está continuando
a viagem por conta própria.
("A arte de ler", "Caderno H", Mário Quintana)
.....................................................................................................
tela de R. Magalhães

Não-identificado

A.N.I.

Em um mundo particular, construído por utopias estáveis, vive um andarilho a vagar por sua insanidade, à procura de lucidez...
Esconde-se por trás de um muro de absurdos...
Não quer que o mundo real lhe veja...
Sente vergonha de si mesmo, pois tudo que construiu até hoje foram...
“Relações descartáveis”
das quais está cansado.
Sente falta de...
“Algo Não Identificado”
Um sentimento indescritível o consome a cada dia,
Um sentimento novo,
já que a tristeza e o vazio foram expulsos de
Seu universo
inconstante, sufocante, supérfluo.
Não sente nada se não vergonha de si mesmo
Pois tudo que construiu até hoje foi um coração petrificado e...
“Algo Não Identificado”


Por Alân Saymon.
Em 25/10/2006.
As 19h e 40 min.

Estas LinNhAsToRTas...

Certa vez um sábio poeta disse:
"Deram um copo de cachaça para a arte
e ela caiu bêbada!"
Não disse ele que logo em seguida
ela se levantou
ergueu monumentos
e cambaleou...
olhou para os lados
e desenhou quadros...
olhou para o teto e passagens pintou...
depois finalmente tombou!
No chão, caiu de testa
escreveu livros...
ficou quieta.
Tão quieta que adormeceu!
sonhou com um tempo de altivez,
lembrou de esculturas,
que no passado fez.
Estátuas imóveis e mudas...
igual ao seu estado de embriagues!
Quando despertou de seu sonho,
a arte viu tudo desconexo e embaçado...
percebeu que havia mudado,
após o seu coma fantástico!
Registrou tudo para não esquecer da ocasião
e avaliando seus instintos e sua atual situação,
chegou a uma fascinante conclusão:
com um novo copo na mão,
brindou com o tempo,
seu antigo irmão
e fugiu da razão!
Deixou-se levar pela emoção
e no ápice de sua decisão,
em pleno estado de Lucidez
ou insensatez,
bebeu outra vez!

"Reflexões Históricas acerca de um coma alcoólico"
por Darlan Amorim

Do espírito da Coisa...



(...)"Já me borrei de tanto rir ouvindo 'O Infinito' sendo explicado...
Se 'sendo' é um verbo, prefiro ficar sendo calado." (Raul Seixas)