1/11/2007

Poema Interpretado

“Poema Interpretado”


Brinquedos encaixotados
Canetas-Aviões que já não voam mais
Relógios desencontrados
Barcos-Vento que não acham seus Cais

Cobra que morde o rabo;
Óculos-Cortina: o perdido não lhe apraz...

Sonhos desenfreados

Carros-Tons, a trilha dos racionais
Cordas-Sons, o retorno aos animais



Interpretação:

Brinquedos encaixotados – infância trancafiada no subconsciente.
Canetas-Aviões que já não voam mais – perda do senso alegórico infantil.
Relógios desencontrados – a falta de sentido na vida faz o Homem ficar incapaz de enfrentar situações excepcionais, como o Amor, por exemplo, o que o faz perder o sentido.
Barcos-Vento que não acham seus Cais – vida impossibilitada de um alvo significativo, desilusão existencial.

Cobra que morde o rabo – tempo cíclico, repetitivo/ limitação da imaginação/ falta de amplidão dos gostos, dos ideais.
Óculos-Cortina; o perdido não lhe apraz – o limitado, que vê sempre a mesma paisagem em tudo, não consegue – ou não quer – apreender do evento perdido a Sua Catarse.

Sonhos desenfreados – plenitude, fluxo de imaginação, os caminhos se estão delineando.

Carros-Tons, a trilha dos racionais – disciplina como forma de convivência, vida apolínea, René Descartes como “pedagogo do cotidiano”, as certezas hipnopédicas do “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley, a realidade delimitada de tal forma que caiba em nossas mãos, as vontades de verdade.
Cordas-Sons, um retorno aos animais – a “livre-expressão” como retomada da essência instintiva do Ser – exemplos são infindos: Stravinsky e sua música cortante; Hermeto Pascoal e a hiper-sensibilidade de sua percepção sonora; a vida selvagem do “Admirável Mundo Novo”; Nietzsche e sua exortação do sentimento, da ação, do êxtase, da vontade, da arte, da força criadora e da recuperação da música dionisíaca, extasiadora do espírito.


Advertência:

Tal interpretação é a do autor.
Claro fique que não é a única possível,
Nem deve ser.
A interpretação foi feita verso a verso,
deixando margem para que o leitor
Exerça
A sua parcela de posse sobre a obra,
Interpretando o conjunto da interpretação
Do autor,
Impondo-lhe sentido,
Se quiser;
Ou ainda, formular uma nova interpretação
Que tenha nada de referência com a do autor.

Faço doação desta obra aos leitores
(se é que existem leitores para esta obra)
como agradecimento.
As demais... roubem para si!



André Raboni

3 comentários:

Anônimo disse...

OK, Raboni!!!
Poema roubado, ressignificado, adorado... Muito bom, moço! Muito bom...

Luciana Cavalcanti disse...

3 poemas em um só?!? Um único poema interpretado???? Um poema contínuo???????? UMA COISA DO CARALHOOOOOOOO (tem outra expressão não...!)...já re-li "n" vezes...
E que apodreçam as goiabas todas!!!!! :P

Anônimo disse...

Eu fui interpretando o que eu queria, pois havia aprendido sobre as várias formas de se interpretar um texto...lendo seus comentários não deu mais para viajar. A caneta-avião veio em meu pensamento como uma criancinha brincando com tal objeto fazendo-o de avião. *=D

Poesia maravilhosa (como sempre)

Grande beijo.