12/19/2006

Calendário do Século Passado

Ele era sempre o mesmo. Parecia. Todos, inclusive eu, o chamavam de Russo,mesmo sabendo que era Eslovaco. Luvik. Com seus óculos negros, uma sabedoria encarnada na grossura de suas lentes, ouera mesmo da armação? Só sei que era sabedoria. Talvez atribuída! Preferiaacreditar que fosse adquirida. Cotidianamente usava uma camisa branca de mangascurtas, calça preta e o mesmo, ou parecia o mesmo sapato de cordões e couro decarneiro. Desgastado, porém confortável. Com uma tranqüilidade e aspereza quenos transmitia. Bem...Luvik atribuía sua longevitude, pois já vivia há quase 92 anos, afilosofia de vida de sua autoria, que era orgulho para o velho estrangeiro tãoamado e não reconhecido Luvik. Sorria para os conhecidos, era o mesmo sorriso, parecia o mesmo. Com seusdentes amarelados – o fumo amarela- dizia ele. Era pequeno, não sei talvez ummetro e sessenta, branco, viúvo. Luvik era o mesmo até na sua morte, com suamelhor e mesma roupa. Era sempre o mesmo. Não deixara patrimônios a serem divididos, nem herdeiros, apenas um calendário,que era o mesmo desde 1890. Sempre no bolso de sua camisa, Luvik, o carregavapara todos os lugares, todo dia, ano, ano velho ou novo era sempre o mesmocalendário. E como o amava. Foi a única matéria de sua desgraça. Luvik o possuíra no dia do falecimentode sua esposa, Sônia. Luvik era um homem do século passado, com roupas do século passado, com o arbonachão e calendário do passado, sua vida e sonhos viviam nos anos passados, nopassado de Sônia. Agora ele está mais feliz, pois voltou para voltou ao seuséculo, adeus Luvik.No calendário com letras de Sônia: “Luvik te espero para o jantar, volta logo,amor Sônia”.Sem longas despedidas, vamos, Luvik já estamos em 1930. Até breve amigo....
RUBENS DA COSTA LACERDA

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